Dermatologista explica os perigos do excesso: lavagem em demasia pode tornar nossa pele mais susceptível aos ataques externos, aumentar a oleosidade ou ressecar demais a pele, além de causar dermatites
São Paulo – 14/01/2020 – O ato de lavar o rosto é básico, mas para muitas pessoas isso pode gerar alguns problemas. Isso por que o famoso “overwashing” (lavagem excessiva do rosto) pode ser tão preocupante quanto não lavar o rosto. “Isso vem preocupando dermatologistas, já que a lavagem excessiva retira o manto de proteção da pele, deixando-a mais susceptível às ameaças externas. Além disso, o overwashing pode desencadear acne, aumento de oleosidade por efeito rebote (de compensação), ressecamento e até dermatites”, afirma a dermatologista e tricologista Dra. Kédima Nassif, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia. Para não ter mais erro na hora de limpar a pele efetivamente, consultamos a médica para preparar um manual definitivo sobre o assunto:
Quantas vezes devemos lavar o rosto por dia? Quando vira excesso?
O ideal é lavar o rosto de manhã e à noite, não mais do que isso. O excesso de lavagem, mais do que duas por dia, pode alterar a barreira de proteção da pele e gerar tanto ressecamento quanto o aumento da produção de oleosidade.
Qual o produto ideal para se lavar o rosto?
É sempre aconselhado usar um sabonete específico para a face. Os sabonetes líquidos tendem a ressecar menos que os sabonetes em barra. Esses produtos específicos para o rosto vão se adequar ao pH da pele e, além disso, podem ter ativos específicos para resolver certos problemas, como o excesso de oleosidade em peles com tendência à acne. O sabonete em barra pode ser usado desde que a pele não seja muito sensível ou ressecada. O esfoliante deve ter seu uso limitado a uma vez por semana ou no máximo duas em peles muito oleosas, mas sempre com supervisão médica.
Pele seca deve ser menos lavada e a oleosa mais?
Tanto a pele seca quanto a pele oleosa devem ser lavadas duas vezes por dia. O que vai mudar é o tipo de sabonete a ser usado. Inclusive hoje já existem sabonetes que tem óleos em sua composição. Isso é ideal para uma pele mais ressecada, pois o sabonete tanto não agride a pele como já repõem hidratação ao manto hidrolipidico.
Temos que lavar o rosto assim que acordamos?
É recomendado lavar o rosto pela manhã para retirar a rotina de cuidados da noite. O horário da noite é o horário em que o dermatologista recomenda a aplicação da maior parte dos rejuvenescedores, que, em sua maioria, devem ser retirados pela manhã para não ter interação com o sol. Então o ideal é lavar de manhã, aplicar a rotina de cuidados da manhã, como o uso de vitamina C e antioxidantes, e reaplicar um hidratante adequado para a pele antes do filtro solar
O que acontece quando lavamos em excesso a pele?
O excesso de lavagem altera a produção natural de oleosidade da pele, pode retirar essa produção de óleo, tornando a barreira de proteção alterada e deixando a pele mais suscetível ao ressecamento. Uma pele suscetível ao ressecamento vai, em contrapartida, ter uma produção maior de oleosidade para compensar aquele ressecamento. Se essa oleosidade passar do ponto, a pele sai de ressecada para extremamente oleosa. Além disso, o uso excessivo de sabonetes pode causar dermatites de contato, tanto irritativa quanto alérgica.
O que é o manto hidrolipídico e microbiota cutânea? Qual a relação dos dois com a proteção da pele?
Manto hidrolipídico é uma camada de lipídios presente na pele que consegue reter a água no tecido cutâneo, ou seja, evitar a evaporação da água. Na nossa pele existe uma porção de proteínas e componentes que se ligam à água, com a função de retê-la; e existe, acima dessa porção, uma barreira de lipídios que evita que essa água retida na pele se evapore. Então esse componente de retenção de água e de lipídios é o manto hidrolipídico. A importância dele é a proteção e a manutenção da hidratação cutânea. Já a microbiota da pele é o conjunto de microrganismos, como bactérias e fungos, que mantêm o pH em uma condição ideal. Quando há essa barreira, com a microbiota preservada, as bactérias que não são patogênicas à pele limitam a proliferação de fungos patogênicos, de bactérias que podem causar infecções à pele. Ou seja, elas nos protegem de infecções, além de manter o pH da pele adequado. Quando a gente remove essa microbiota, a flora bacteriana da pele fica desequilibrada, permitindo que bactérias que causam doenças, infecções, foliculites e até micoses, além de ressecamento pela diferença de pH.
Quais são os sinais de que a pele está sendo lavada em excesso?
Logo após a lavagem, a pele fica muito seca, repuxando e com algumas áreas com vermelhidão. E, após algumas horas, uma oleosidade desproporcional surge. Surgem as gotículas de óleo e uma oleosidade excessiva tentando compensar aquele processo de ressecamento.
Qual medida devo tomar ao perceber que estou lavando demais?
A primeira medida é parar de lavar demais, manter duas lavagens ao dia e hidratar bem a pele. Uma pele mais oleosa vai se beneficiar de hidratantes mais fluidos. Boas opções são aqueles que têm ceramidas e ácido hialurônico em suas fórmulas no veículo loção. Se é uma pele mais ressecada, usa-se ceramidas, óleos, triglicérides e ômegas em veículos mais cremosos.
Dermatologista e Tricologista, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia, da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica e da Associação Brasileira de Restauração Capilar. Graduada em Medicina pela Universidade Federal de Minas Gerais, possui Residência Médica em Dermatologia também pela UFMG; realizou complementação em Tricologia no Hospital do Servidor Público Municipal, transplante capilar pela FMABC e em Cosmiatria e Laser pela FMABC. Além disso, atuou como voluntária no ensino de Tricologia no Hospital do Servidor Público Municipal de São Paulo. www.kedimanassif.com.br
Maria Paula Amoroso Nunes
E-mail: paulaholding@uol.com.br
Fone: (11) 61617919
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